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Quando falamos de amor, todos têm a palavra; às vezes, usamos frases estereotipadas que tentam resumir o significado de uma relação de esposos ou namorados e as repetimos como se tivessem saído de uma mente prodigiosa iluminada por Deus, exaltando-as como ideias dignas de ser gravadas em mármore, para que nossos descendentes nunca percam esta herança. Mas o que nem sempre percebemos é o sentido ocultamente perverso da chamada "sabedoria popular".
Você já parou para pensar que, quando falamos de um casal, costumamos usar a imagem da "metade da laranja"? Esta é a figura mais prejudicial que existe do que significa uma relação verdadeira.
Em primeiro lugar, porque acabamos acreditando que somos seres incompletos e que somente outra pessoa vai nos completar, mas isso não é verdade, pois cada ser humano foi criado por Deus como uma unidade interior inquebrantável e completa em si mesma; por outro lado, as laranjas só servem para ser espremidas e o bagaço que sobra é jogado rapidamente no lixo.
Em segundo lugar, esta imagem quer expressar algo que não é verdade: o fato de fazer você acreditar que encontrou alguém "idêntico" a você, como se o tivessem cortado ao meio e o pusessem a procurar pelo universo aquela pessoa que – só ela – pode lhe fazer feliz, porque é a única que é sua exata metade.
Você percebe o perigo desta imagem? Ver-se desta maneira é sinônimo de exploração humana, de espremer-se mutuamente até não conseguir tirar mais nada da outra pessoa, chegando à conclusão de que o amor acabou.
Enxergar-se dessa maneira é condenar-se a ser infeliz para sempre, ao convencer-nos de que existe apenas uma única pessoa na Terra capaz de saciar a nossa felicidade. Que infelicidade tão grande! E se justamente esta pessoa não quiser nada com você? Seria a morte! Não poderei ser feliz nunca? Eis aí o engano da fantasiosa metáfora.
Os seres humanos foram criados por Deus de maneira única e singular: cada um é completo. Quando Deus criou o homem e a mulher, não foi para que se completassem, mas para que se complementassem, por meio da doação mútua, da oblação mediante o amor, para alcançarem juntos a plenitude do amor em Cristo.
O que existe no amor entre os esposos é uma entrega "assimétrica", já que cada um oferece o que é, natural e psicologicamente. A forma de amar masculina não é a mesma que a feminina e, se ambos não forem conscientes disso, então criarão expectativas falsas. Os dois não são capazes de amar da mesma maneira, mas cada um pode amar da maneira mais perfeita de que é capaz. Homem e mulher não amam da mesma forma, entendeu?
As naturezas feminina e masculina são idênticas em dignidade, mas diferentes em sua maneira de ser. O simples fato de não compreender as mudanças hormonais em uma mulher pode levar o homem à angústia de encontrar uma esposa que de vez em quando pode parecer desconhecida, instável. Por outro lado, há mulheres que não entendem como é possível que seu marido não tenha reparado no seu vestido novo, que não tenha lembrado do aniversário de casamento ou da visita marcada à casa da avó.
Há frases que parecem belas aos ouvidos, mas que podem causar muitos danos. E aqui está o desafio do discernimento. Não existe a "metade da laranja", porque ninguém tem a responsabilidade de preencher vazios alheios que não foram causados por si mesmos. É um peso enorme acreditar que temos a obrigação de dar felicidade à outra pessoa e que ninguém mais pode fazer isso.
Prefiro pensar em seres completos que decidem unir suas vidas mediante um ato de entrega suprema no amor, para, dessa maneira, "atar-se", perder sua liberdade individual e encontrar uma nova maneira de exercê-la, mas de forma comunitária, com um companheiro de caminho que tem o mesmo horizonte.
Prefiro acreditar em dois seres de unidade interior que se unem para fazer dos dois "um só", sem que seja uma relação simbiótica nem de dependência afetiva; dois que se tornam um porque a essência do casamento exige que seu amor seja tão irrevocável, que se torna comprometido, unificador, sem ser uniformizador.
Prefiro pensar em um amor de esposos que foi estruturado por Deus, que permitiu que dois seres, tão diferentes espiritual e psicologicamente, possam superar suas diferenças precisamente em Cristo, que é o único capaz de criar convivência e destruir individualismos.
Nada de "metade da laranja". Cuidado com quem enxerga você dessa sutil forma exploradora e desgastante, porque, ao perceber que viveram sua vida como um suco que só foi capaz de saciar a sede por algumas horas, então se cansarão um do outro e dirão, como muitos, que o amor acabou.
As frutas não costumam ter suco eternamente. Mas o amor verdadeiro é, sem dúvida, para sempre.
Extraído do site: www.aleteia.org
Juan Ávila Estrada
Sacerdote colombiano especializado em Matrimônio e Família
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