“Se eu não acreditasse em Deus, seria um desesperado” –
Ariano Suassuna.
Com tantas discussões de diversos pontos de vistas, de diversas visões ideológicas, políticas, religiosas, considerando a laicidade de nosso País, lembrei-me de uma conversa que tive com um colega de trabalho enquanto aguardávamos para sermos atendidos pelo Secretário Municipal da Educação, acho que no ano de 2002, logo após a morte de minha mãe.
Ele era professor da zona rural e lecionava há pouco tempo com crianças na faixa etária de 4 a 6 anos. Confessou que estava meio perdido, pois sua formação era para trabalhar com alunos do ensino fundamental maior e não se sentia habilitado para lecionar com crianças do ensino fundamental menor, ou seja, o antigo Jardim de Infância.
Logo me identifiquei, vez que por anos dediquei-me ao ensino infantil e relatei minha experiência, algumas canções infantis e dicas de metologias, etc... Em uma das canções que repassava uma delas falava de DEUS, ( Deus está aqui...) antes mesmo de começar a escrever a primeira estrofe da canção o professor me interrompeu e disse:
- Professora, sou ateu e não posso falar para meus alunos sobre aquilo que não creio.
Confesso que entrei em "choque", parei, olhei, poderia ter me afastado, o chamado de louco, mas permaneci calada por alguns segundos ou minutos..
Sorri e o deixei a vontade e então perguntei:
- Como o senhor explicará para seus pequenos sobre a existência da vida, se algum deles lhe perguntar de onde viemos? Afinal, criança pergunta mesmo. Então Professor, me defina, em seu ponto de vista, de onde viemos?
Um longo discurso ele discorreu sobre as teorias existentes, Big Bang, o Panteísmo, Agnosticismo e outras teorias, ouvi com atenção e em seguida a pergunta que todo ateu faz a uma crente.
- Como você explica a existência de Deus? Você já o viu? Como sabe que Ele realmente existe?
É... Respirei fundo...em seguida, mais fundo ainda. O dia estava quente, sentados do lado de fora uma leve brisa surgiu para abrandar o calor... Senti o sopro de Deus me trazendo a resposta.
- Professor, o senhor sentiu essa brisa?
- Sim, respondeu ele. Refrescou né?
- Sentiu? Mas o senhor a viu?
- Não.
- Pois é, assim também é Deus. Como uma brisa suave, Deus a gente pode não ver, mas podemos sentir. Eu nunca vi Deus, mas eu sinto sua presença, sinto Seu afago no meu leito de dor, sinto Sua mão me levantar quando eu caio. E essa é uma sensação que só quem CRÊ pode sentir... A Brisa o senhor não ver, mas o senhor se permite sentir. Então, aguarde, vigie, espere... tenho certeza que um dia o Senhor soprará como uma brisa em sua VIDA, e será uma experiência única e talvez inesperada. Apenas se permita SENTIR.
Nada mais foi dito, apenas sorrimos...
Nesse momento fui chamada para falar com o Secretário, uma conversa rápida, mas antes de sair voltei para cumprimentar meu colega.
Um longo aperto de mão e um grande sorriso uniu as duas "crenças"de um crente e um ateu.
Isso mesmo, crença e descrença, mas acima de tudo o RESPEITO se fez presente e esteve ali, ACIMA DE TODAS AS DIFERENÇAS.
"O ser humano, por natureza, acredita em algo. O ateu, acredita que Deus não existe. Por isso, não há escape: o ateu é um grande crente - e com mais fé que nós, cristãos, pois, crê que o nada pode trazer algo à existência." (Autor desconhecido)
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