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Por: Charlene Magalhães
Foto: Charlene Magalhães |
À noite, os
meninos foram novamente ao Shopping e eu resolvi ficar no hotel, curtir um
pouco mais as regalias, assistir a um bom filme e em algum canal encontrei o
Cisne Negro, já o havia assistido, mas tem sempre algo de novo em cada reprise.
Uma bailarina com o desafio de interpretar os dois momentos, um de docilidade e
o outro de fugacidade, um lado doce e o outro voraz. Chego à conclusão que
somos uma mescla de Cisne Branco e Negro, somos artistas completas. Afinal encaramos
diariamente situações parecidas, pessoas tão parecidas e momentos de duros
desafios. A fome chega e resolvo fazer um lanche, até poderia ir vestida no
macaquinho e chinelo, quem ia notar? Mas resolvo me produzir um pouco, um belo
vestido, uma leve maquiagem, uma sandália de salto Anabela, alguns reais na
bolsa e uma caminhada pelas ruas tranquilas da Avenida dos Holandeses. Entre as
pessoas bem vestidas em seus carrões, uma ou outra pessoa comum, assim, como
eu, uma jovem, moradora de rua me atrai o olhar. De longe, ela estende a mão e
me pede algum trocado. Olhei pra aquela jovem, magra, maltrapilha e suja e a
convidei para tomar um lanche comigo, ela parece não ter entendido e manteve-se
sentada no mesmo lugar.
Talvez ela
tenha pensado que eu fosse mesmo maluca, como alguém tão maltrapilha poderia
sentar-se à mesa, em um fino restaurante, cercada por pessoas tão bem vestidas
e perfumadas. Com certeza ela pensou “Essa mulher só pode ser maluca!”.
Sentei-me sozinha, sem celular e enquanto aguardava por alguém me atender
deleitei-me na leitura do livro que havia levado. Logo chega a atendente e
apresenta-me o cardápio. Considerando as limitações alimentares por conta da
dieta, meu pedido foi uma Sopa de Legumes e para a viagem uma de frango,
afinal, tinha convidado alguém para jantar. O pedido não demora muito, comi a
sopa calmamente sempre atenta à jovem.
Ao
terminar, peço a conta, pega a sopa para viagem e sigo, observo que a jovem
fica atenta. Depois deita-se no chão, com a cabeça apoiada em uma caixa de
papelão, ou algo parecido. Aproximo-me dela, ela levanta e fica me olhando um
pouco assustada. Então pergunto o porquê de ela haver recusado meu convite.
- A senhora tava mesmo me convidando?
- Sim.
Ela ficou
em silêncio, se pensou algo, foi sábia em não proferir nenhuma palavra.
_ Qual seu
nome menina?
-Miriam.
-Qual sua
idade?
- Tenho 22
anos.
- Você mora
mesmo na rua? Estás grávida?
- Não. Eu
moro no São Francisco, mas gosto de ficar aqui.
- Você sabe
ler? Não estuda mais ?
- Sei,
estudei até o 5º ano, acho que não posso mais voltar a estudar.
-Por quê?
Ela volta a
deitar-se no chão.
- Sei lá.
- Eu sou
professora, acho que você é muito jovem, pode, se quiser, retomar sua vida.
Miriam, tudo na vida da gente depende das escolhas que fazemos para nós,
ninguém, além de você, pode escolher por você. Não pense que sou melhor que
você, apenas fiz uma escolha diferente. Acredite, por dentro, tenho meus medos,
minhas dores e em algumas situações, você é mais livre e corajosa que eu.
Acredite.
A jovem
olhou no fundo dos meus olhos e sorriu.
Não soube
interpretar aquele sorriso, mas me pareceu algo bem espontâneo e sincero.
Entreguei a
ela a sopa de frango. Antes de levantar, estendi minha mão e disse:
- Se
acreditas em Deus, deixe ELE guiar sua vida. ELE é o meu guia.
Ela,
estendeu sua mão também, sorriu novamente, pegou a sopa, colocou ao lado,
deitou-se novamente e agradeceu.
Levantei-me
e segui de volta ao hotel.
Não sei se
ela comeu a sopa, se dormiu na rua, se levou em consideração qualquer coisa que
eu tenha lhe dito. Mas quanto a mim, fez
uma grande diferença.
Afinal... o
compromisso marcado com uma amiga que não pode comparecer por conta de alguns
imprevistos, possibilitou-me um encontro ainda mais edificante.
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